As
meninas da T.O. (sigla de Terapia Ocupacional) compensam com carinho e afeto as
chicotadas que a vida deu (e às vezes continua a dar) nos cadeirantes
internados no Lucy Montoro; vivemos, nós, os cadeirantes, entre a realidade e a
depressão; as meninas da T.O. conseguem nos por novamente na realidade e com
ânimo para enfrentar o árduo – e muitas vezes dolorido – caminho da
reabilitação.
Na segunda internação, minha T.O. foi a inesquecível Amanda.
Devo a ela a quase total recuperação do meu braço direito, paralisado pelo AVC
que me atingiu em fins de julho de 2013 durante a cirurgia que fui obrigado a
fazer no hospital da UNICAMP para desobstrução das coronárias; não foi apenas a
reabilitação do braço; com seu método persuasivo, tenaz, Amanda ampliou
bastante também minha independência em relação ao cuidador, seja me passando
métodos práticos e eficazes para me vestir, para me alimentar, para tocar a
cadeira de rodas, etc.
Nesta terceira internação, fui contemplado por duas T.O.s do
mesmo calibre de Amanda – Kamyla e Tharsila. Kamyla assumiu e três ou quatro
dias depois adoeceu (conjuntivite) e sua missão foi repassada a Tharsila.
Levarei das duas também ótimas lembranças.
Kamyla passou pouco mais de uma semana em casa e retornou ao
trabalho em meus últimos dias de internação; teve tempo, contudo, de concluir
seu brilhante trabalho. Diria que os dias que passei em companhia de Tharsila
foram da mesma forma inesquecíveis – ela tem um jeito doce e suave de se
relacionar com seus pacientes. Tem um sorriso encantador.
Na primeira semana, Tharsila concluiu a avaliação que Kamyla
iniciou mas não teve tempo de terminar:
- Agora, seu Dirceu, o senhor vai-me dizer, numa escala de um
a dez, pela importância, as coisas que fazia e hoje não consegue fazer mais.
Eu mencionei várias coisas, entre as quais a leitura de
livros mais volumosos, pois minha mão direita não tem força para sustentá-los
pelo tempo necessário; outra dificuldade mencionada foi a de me vestir com a
roupa da parte inferior do corpo, calça, meias; Tharsila insistiu por uns dias
com a melhora do desempenho do braço direito e Kamyla retornou com disposição
redobrada; passou exercícios para melhorar o uso da mão direita, que andava um
tanto esquecida e me levava para o quarto, com ajuda da cuidadora, para
treinamentos persistentes de colocação de calças e meias; os ganhos de
independência foram, mais uma vez, enormes.
No último dia da internação, Kamyla entregou-me
um presente que fechou com chave de ouro o tratamento: um suporte de
papelão para apoiar os livros mais volumosos como incentivo a que eu retomasse
a leitura com a mesma intensidade de antes; ela construiu o invento em casa e
suas colegas na T.O. ficaram encantadas
com ele, com certeza não mais que o encantamento de quem o ganhou. Trouxe-o
para casa e ainda não o usei. Serve, por enquanto, para eu manter acesa a lembrança
de Kamyla com seus olhos grandões e maravilhosos, seu rosto afilado – rosto de
princesa.
(Seção de Terapia Ocupacional)
Sr. Dirceu,
ResponderExcluirAdorei seu texto! Muito obrigada pelo carinho e reconhecimento do nosso trabalho.
Esperamos te ver em breve e cada vez melhor, sempre!
Bjos
Tharsila
Tharsila, estou comovido por sua gratidão. Deus lhe pague pelo que você fez pela gente. A Susana também lhe manda um beijo e lhe deseja tudo de bom.Dirceu e Susana
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