01/06/2014

A solidariedade em marcha


Meu retorno à vida reservou-me grandes surpresas, muitas
das quais, presumo, ainda não consegui descobrir. O meu tipo de AVC é raro, dizem médicos e terapeutas. A retomada dos movimentos se deu pela mão paralisada quando, na maioria dos casos, se dá pelo pé. Dizem que exatamente por causa disso, minhas chances de recuperação total não serão muito difíceis. Estou em busca dela. Não é fácil. Por mais boa vontade que eu tenha em trazer de volta à normalidade o meu braço e minha mão direita, ainda tenho muito que caminhar até chegar ao ponto. É um tratamento incômodo e dolorido. Sem falar das limitações de acesso e mobilidade.
Antes de entrar nelas, nessas limitações, quero falar um pouco das mudanças que certamente ocorreram na minha base
neurológica. Sinto que estou mais sensível a tudo, à minha realidade. Sempre fui um ser bastante solidário. Solidariedade agora  transformou-se na espinha dorsal de todos os meus sentimentos. Isso aconteceu na medida que passei a depender da ajuda alheia para fazer tudo o que preciso, das necessidades fisiológicas - comer, dormir, movimentar-me - às intelectuais, como ler jornal e escrever este blog.
Ainda não sei explicar exatamente porque, mas entrei no período pós-AVC centrado na ideia de ajudar todas as pessoas que como eu sofreram lesões neurológicas. Este blog nasce desta preocupação. Desde o período que passei na UTI da UNICAMP não me sai da cabeça a ideia de que não devo sair dos problemas atuais sozinho. Tenho de levar junto comigo tantas pessoas quanto puder.
O contrário disto minha consciência hoje define simplesmente como egoísmo.



2 comentários:

  1. Vc sempre teve um momento de sua vida a dedicar a todos a sua volta, em família, vejo isto desde criança! E hj não mudou absolutamente nada, aliás, melhorou, observo eu. Vc está se ajudando e aos outros que possivelmente, tenham mais dificuldade de enxergarem dessa forma um momento tão difícil e sensível. A sua solidariedade apenas continua tio Pio, e com sua inteligência e capacidade, vai conseguir sensibilizar a todos a tua volta. Um grande abraço. Sua sobrinha Margarete.

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  2. Adoro ler seus textos tio. Você é mais do que um sobrevivente. Estou certa que você vai sair dessa. Suely

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