21/10/2015

O Homem e a Cadeira de Rodas (2)

        Lembro-me de seu rosto lindo, cativante e expressivo;  magra, deveria ter quando muito 33/34 anos;  almoçamos com ela poucas vezes, mas o suficiente para gostarmos dela e sentirmos sua falta nos dias em que nos mantivemos no Lucy Montoro depois que ela teve alta. Não tinha ou não vivia com o marido. Não me lembro mais de seu nome. Falava sem constrangimento sobre sua vida:
        - Tenho cinco filhos, o maior tem 14 anos; os dois gêmeos, de sete anos, são os mais difíceis de controlar; são impossíveis!
        Foi por causa dos gêmeos que ela está em cadeira de rodas, paraplégica; foi tentar salvá-los de uma queda de cima do telhado de casa e quem acabou caindo foi ela.
        Passou 45 dias hospitalizada – 15 dias na UTI e mais 30 dias no quarto. Saiu do hospital (SP) e foi direto para a fisioterapia intensiva do Instituto Lucy Montoro. Quando a conheci na copa do sétimo andar, estava já em seus últimos dias de internação no Lucy.
        Sentei do lado dela na copa e perguntei-lhe:
        - Como é, está com saudade dos filhos, ansiosa para voltar pra casa ? -- Arregalou os olhos e disse:
        - Estou é com bastante medo, nem imagino o que eles vão fazer comigo nesta cadeira de rodas ! Isto para eles vai ser como um super brinquedo...



2 comentários:

  1. se ela já não conseguia controlá-los antes...Além.das pernas, teria que ver essa relação com os filhos, sobretudo os gêmeos..Ela.ir pra casa já temendo o que poderiam fazer com a cadeira de rodas, soa-me um pouco como colocar ideias nas cabeças deles...Um.bom tratamento psicoterápico poderia ser algo tão importante quanto tratar as pernas...

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    1. Sol, temos de nos colocar no lugar dela: baita chicotada a vida lhe deu, deve estar até agora meio zonza, perdida na poeira.

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