18/09/2015

A história sempre explica

        Ela aplicou uma rasteira e derrubou um homem que carregava uma pequena criança no colo enquanto corria para ingressar, o mais rápido possível, na Hungria; depois chutou com violência várias outras pessoas, inclusive crianças, que haviam acabado de atravessar a fronteira com a Sérvia. Era loira, usava máscara no rosto como se lidasse com pessoas portadoras de doenças infectocontagiosas, tem 40 anos, seu nome é Petra Laszlo, húngara, e estava ali como cinegrafista de uma agência noticiosa da Hungria, da qual, dizem, foi demitida tão logo espalhou-se pelo mundo as imagens de sua “admirável ação”, dia 11 de setembro, na fronteira da Hungria com a Sérvia, hoje cercada por um muro bastante alto e encimado por um rolo de arame farpado.
        Fiquei abismado com as cenas protagonizadas por Petra; o bicho-homem é capaz de se superar a cada dia que passa!
        Aqui no meu canto, realizei uma rápida imersão na história da Hungria para ver se, nela, encontrava alguma explicação para gestos tão obscenos, tanto os gestos de Petra como os gestos do governo húngaro e seu “moderno” muro da vergonha. Não precisei ir muito longe. Encontrei vários episódios e informações interessantes já no século passado!
        A Hungria sempre foi um país bastante belicoso; localiza-se na Europa Central, vive basicamente do turismo e tem alta renda per capita e alto IDH-Índice de Desenvolvimento Humano; já tinha ouvido falar de seus maravilhosos lagos termais e sonhava conhecê-los. Sonhava, não sonho mais; jamais vou querer visitar países que se recusam a acolher refugiados e erguem paredões para impedir a entrada de “despatriados”.
        Curiosamente, a Hungria foi um dos países onde o holocausto, sob comando de Hitler, mais se aprofundou. Em julho de 1941, o governo (Bardossy) deportou da Hungria 40.000 judeus. Como forma de agradar à Alemanha, Bardossy aprovou a Terceira Lei Judaica, que proibia o casamento e relações sexuais com judeus. Estes sofreram perseguições econômicas e políticas durante a administração Kállay, mas o governo protegeu-os da “solução final” (Extermínio Total dos Judeus na Alemanha e nos países ocupados).
        Após a ocupação da Hungria pelos nazistas, começaram as deportações de judeus para campos de concentração na Polônia, supervisionados pelo coronel SS Adolf Eichmann, julgado e enforcado em Israel em 1961. Em maio e junho de 1944, a polícia húngara deportou cerca de 440.000 judeus em mais de 145 trens, a maioria para Auschwitz. No total, mais de 533.000 judeus da Hungria foram mortos durante o Holocausto, bem como dezenas de milhares de ciganos.
        Os judeus sempre estiveram presentes na Hungria, desde os primórdios da Idade Média, e a maior sinagoga da Europa se localiza em Budapeste, a capital do país. Declaram-se judeus hoje apenas 0,1% de toda a população húngara, de um total que se aproxima de 10 milhões.


(De repente, aparece o rosto desnudo de Petra; na cena seguinte, ela entra em ação)

3 comentários:

  1. Só podia ter mesmo uma mãozinha - ou melhor, um pézinho - de Hitler nesta história!!!

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  2. Na verdade você sabe pouco sobre a história da Hungria, e o que não é passado na mídia é o esforço da Hungria para ajudar os imigrantes, a própria embaixada emitiu uma nota sobre o caso, e estranhou que a mídia tenha passado uma imagem errada dos fatos. Se você for ver, uma repórter tentou segurar um imigrante ilegal, que estava fugindo da polícia, imigrantes passando longe dos locais de entrada legal do país, e a maioria nem da Síria era, mas oportunistas se aproveitando da ocasião.

    Se você for ver a história, a Hungria tem mais de 1000 anos só na Europa, e a história dela é muito complexa, além do que a história dos que perderam as guerras nunca é contada, e a história brasileira é baseada na história que principalmente a França conta,e claro que eles esculhacham.

    Na verdade, desde a idade média os muçulmanos travam Guerras com a Hungria, principalmente pela localização geográfica do país. Se você por o dedo no meio do mapa da Europa, você vai por o dedo na Hungria, quem quer ir de um lado para o outro na Europa, passa pela Hungria.

    A maior guerra dos húngaros com os muçulmanos durou cerca de 150 anos, houve um episódio dessa guerra em que os muçulmanos invadiram a cidade de Mohács, e mataram brutalmente 40.000 civis, ainda empilhavam as cabeças dos mortos a fim de mostrar o que eram capazes. Hoje as igrejas de toda Europa toca o sino, uma vez por semana, para relembrar a invasão dos muçulmanos, e comemorar a expulsão deles. Aliás, as casas de banho na Hungria, que você falou, tem muito a ver com essa época, na verdade se chama banho Turco, como na Hungria existe agua termal natural, foram feitas diversas casas de banho, algumas se encontram em piscinas dentro de cavernas.

    Já em relação aos judeus a história é também muito complexa, eu vou tentar resumir, na verdade os Judeus são um povo, inclusive muito parecido com os Húngaros em relação ao amor ao povo, e sempre sofreram perseguições durante toda a história, por motivos culturais, religiosos, raciais. Mas a intriga dos Húngaros com os Judeus ocorreu quando surgiu um livro chamado "O protocolo dos sabios do sião". Os Húngaros sempre trataram os imigrantes como bem vindos, e os Judeus, que nunca tinham terra acabaram achando ali um lugar que acharam convidativo, mas nesse livro que eu mencionei estava escrito que os Judeus queriam tomar a região da Hungria para eles, os Húngaros acabaram vendo isso como uma ameaça, como se os judeus quisessem expulsar os húngaros dali ao invés de se integrar.

    Por conta desse livro, e da quantidade de judeus que estavam se estabelecendo ali, acabou-se criando um mal estar com a presença dos judeus lá.

    O nazismo não é uma ideologia húngara, é uma ideologia alemã. E Hitler, com a ideia francesa da superioridade da raça ariana, acabou instalando o nazismo no leste europeu quase inteiro, não tinha como a Hungria lutar contra Hitler, e o que ocorreu é que Hitler expulsou os húngaros do poder, e grupos nazistas acabaram tomando conta levando os judeus, principalmente por conta de que consideravam os judeus uma ameaça que queria dominar a região. Durante muito tempo a Hungria nunca conseguiu governar a si mesma, uma época foi a Áustria, depois o nazismo, depois os russos. Os Húngaros sofreram uma violência absurda durante décadas e nunca tiveram efetivamente liberdade política, de expressão, quando permitiram os imigrantes judeus entrar no território, veio o livro dizendo sobre a dominação dos judeus, depois da guerra, dividiram a Hungria levando embora uma riqueza cultural formada historicamente e que os outros países perseguiram e massacraram.

    Hoje a Hungria é um pequeno território, com uma história extremamente pesada, um povo extremamente sofrido, as marcas da violência dificilmente vão desaparecer, e é um povo que quer apenas ser ele mesmo.

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  3. Caro Max, não quis de modo algum reduzir a história da Hungria; apenas acho que não podemos diminuir a importância histórica do holocausto, um símbolo inquestionável da face abjeta do homem.

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