06/09/2017

Fim dos jornais: desafios do novo negócio!

Donos de jornal presenciam perplexos o desmoronamento do velho, lucrativo e confortável negócio e se comportam como borboletas perdidas na tempestade! No desespero, alguns me perguntam o que fazer e eu não tenho uma resposta pronta porque também sou tomado pela perplexidade!


Sei dizer apenas algumas coisas que “não se deve fazer” e acrescento as coisas que “eu faria”,  se estivesse no comando de alguma mídia impressa neste momento de crise aguda, crise de transição entre o modelo de negócio antigo para um novo e ainda indefinido modelo! Eu as faria, ainda sem a certeza de atirar no alvo certo.


Coisas que, a meu ver, não devem ser feitas:


1ª.)- Ficar parado! - A paralisia e a inércia serão duramente castigadas pela velocidade das transformações em curso! Num mundo em que todos se mexem, é preciso se mexer também pra não ficar pra trás!


2ª.)- Trabalhar de costas viradas para as vertiginosas mudanças em Tecnologia de Informação! - Há que monitorar o novo mundo, assimilar conhecimento sobre as milhares de experimentações que acontecem em todo o Planeta!


3ª.)- Ter medo de atirar! - A ordem é apertar o gatilho muitas e muitas vezes! Experimentar! Selecionar os experimentos bem sucedidos e assim se preparar para definir seu novo modelo de negócio!


4ª.)- Titubear na hora de adequar os custos das novas operações! -  Por mais bem sucedida que seja sua inserção no novo modelo, ela não produzirá, de saída, a mesma receita e a mesma rentabilidade de antes...melhor se preparar para um regime de rédeas curtas em custos e gastos...


6ª.)- Titubear em tirar de circulação mídias impressas deficitárias ou em vias de se tornarem deficitárias... - Você sabe que manter uma mídia impressa significa muito desembolso em curto espaço de tempo… pense em que as antigas receitas dificilmente retornarão...Não trabalhe no vermelho!


7ª.)- Abandonar ou esquecer as marcas antigas. - Há que carregar as antigas marcas e usufruir, indefinidamente, da carga de credibilidade e visibilidade que elas transportaram e acumularam durante muito tempo... Errou a Folha de Londrina, do Paraná, ao adotar para o seu serviço de notícias no meio digital um outro nome – Bondenews – sem nada que lembre a  antiga marca que circula diariamente há 68 anos!


8ª.)- Preocupar-se com os assuntos miúdos e tratá-los como assuntos miúdos... - Erra o serviço eletrônico da gaúcha Zero Hora ao dar a um assunto de trânsito em Porto Alegre a mesma importância da notícia sobre a prisão de políticos do Estado por desvios em obras públicas… Há que “nacionalizar” a pauta e transformar o “local” em “nacional” -  via contextualização… É preciso encontrar algum jeito de transformar uma notícia de trânsito em Porto Alegre numa boa matéria de “problemas urbanos” que possa ser lida com interesse por qualquer morador de qualquer cidade do mundo!


9ª.)- Nunca se esquecer de que o digital rompe todas as barreiras do regional e que a mesma notícia deve ser lida com o mesmo interesse pelo morador da periferia de Porto Alegre e pelos moradores de Manaus, Pequim, Dubai, simultaneamente...


10ª.)- Nunca se esquecer de que a época de fazer a notícia chegar ao leitor está no fim ... - No digital, o leitor estará lá à espera do que você vai lhe oferecer...só não lhe mande o prato requentado do analógico, do antigo-de-sabor-ruim...O digital é o mundo da criatividade e da inovação...


EU FARIA ASSIM


Coisas que “eu faria” se estivesse no lugar de um desses empresários ou tivesse de encarar o desafio de montar uma nova plataforma digital:


1ª.)- Promoveria treinamento intensivo de toda a equipe...é necessário que todos que vão participar do novo desafio estejam preparados para o embate e imbuídos de uma clara compreensão de metas, objetivos, estratégias...   De saída, indico aqui seis palestrantes, a meu ver indispensáveis para dar início ao jogo da nova plataforma:


a)- Rodrigo Lara Mesquita - além de ter sido o CEO da Agência Estado, é uma das pessoas do Brasil que mais entendem e estudam as transformações que se processam no mundo da informação...


b)- Demi Getsko, o maior conhecedor da internet no Brasil...


c)- Renato Cruz, o dono e criador da inova.jor, uma agência de notícias que monitora as inovações tecnológicas do setor empresarial....


d)- Moisés  Rabinovich, jornalista, ex-correspondente internacional...pode ensinar como fazer o monitoramento de tendências das mídias internacionais...


e)- Oscar Motomura, presidente e fundador da Amana-Key, especializada em inovações radicais em gestão...


f)- Sergio Kulpas, jornalista, autor de dois boletins diários sobre transformações de mídia no Brasil e no mundo...


2ª.)- Escalaria alguém bem preparado pra monitorar as transformações e experimentos da mídia digital em todo o mundo! Esse profissional deve ter condições de identificar e compor parcerias estratégicas no Brasil ou em qualquer parte do planeta!


A ideia é a mesma adotada pela Agência Estado, empresa do Grupo O Estado de S. Paulo, nos anos 1990, da qual fui executivo  de vendas e marketing.


Uma das primeiras providências do diretor geral, Rodrigo Lara Mesquita, foi instalar um núcleo de monitoramento das transformações que ocorriam nas plataformas de difusão de informações: o mundo saía do tempo diferido para entrar no tempo real (realtime) e as antigas agências de notícias transformavam-se em “agências de informações”.


Foram também, como agora, mudanças viabilizadas pela evolução das tecnologias de informação: entrávamos  na “Era dos Informadutos”, tal qual fora descrita pela Universidade de Navarra, na Espanha.


Enquanto as agências de notícias forneciam conteúdos para a mídia impressa, as agências de informações, graças à nova tecnologia de transmissão de dados, forneciam conteúdos para empresas e mesas de operações financeiras. Eram conteúdos distribuídos já com grande agilidade e serviam para tomada de decisão de compra e venda de ativos financeiros!


A Agência Estado transformou-se em “case de sucesso” ainda na década de 1990 e, sob comando do jornalista Júlio Moreno, o núcleo de monitoramento, chamado de Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento, teve um papel fundamental na decolagem fulminante do projeto. Funcionava como uma bússola, identificando experimentos bem sucedidos e indicando parcerias estratégicas em todo mundo.


3ª.)- Reuniria toda equipe (quando eu digo “toda”, é toda mesmo, ou seja, todas as pessoas que serão envolvidas nas operações da nova mídia, não importa a função) para, no regime de “brainstorm”, identificar e hierarquizar “os nossos mananciais”.


O que eu chamo de “nossos mananciais” ? São os temas que mais vão  oferecer pauta para o novo “serviço digital de notícias” e assim permitir que eu:


a)- Produza diferenciais de cobertura


b)- Faça um serviço relevante


c)- Faça um serviço útil


d)- Faça um serviço interessante para muitos, independentemente do local onde se encontrem e vivam...


Um serviço que nasça, por exemplo, em Curitiba, não pode deixar de dar uma cobertura sistemática à Lava Jato; tem por obrigação ser o serviço mais especializado no assunto do País...da mesma forma, por estar em Curitiba, tem por obrigação gerar ótimos conteúdos em cidade, urbanismo, transporte público... Lava Jato e Urbanismo, entre vários outros, são dois “mananciais importantes” de um serviço curitibano...


Já um serviço que nasça em Campinas (SP) deve ter uma editoria forte em indústria (pra quem não sabe, a região de Campinas é o segundo polo brasileiro em produção industrial)...Campinas permite ainda uma boa cobertura em pesquisa científica (Esalq, Unicamp, Puc) e em desenvolvimento tecnológico (CPQD, IBM, Motorola, etc...). Campinas deve ainda ser forte na geração de conteúdos em comportamento (vida em condomínios),  arquitetura, etc. etc. etc.


Um serviço que nasça em Santa Catarina ou no Rio Grande do Sul precisa ser forte em turismo, em agricultura, em pesca, psicultura, empreendedorismo, como exemplos...


Cada Estado, cada região, cada cidade, tem os seus “mananciais” e a ordem é identificá-los e hierarquizá-los, ou seja, classificá-los por grau de importância editorial, tudo feito num esforço coletivo...


A ideia de reunir a equipe para a  concepção do novo projeto é importante para se obter comprometimento, pois as pessoas não se comprometem com aquilo que lhes é imposto de cima para baixo...em outras palavras, não há comprometimento quando não há comunicação, transparência, participação, espírito democrático de trabalho...Lembrando que a falta de comprometimento é a porta de entrada para o fracasso...


4ª)- Passaria a operar, desde o início, no regime multimídia – texto, foto, ilustração, voz e vídeos !


5ª.)- Criaria um alentado grupo de DIFUSORES dos meus conteúdos...abriria contato com algumas centenas de pessoas bem posicionadas e ativas em certas redes sociais – Facebook, Twiter, como exemplos – e proporia um acordo que passe por:


a)-  Eu repasso meus conteúdos pra você e você os compartilha com exclusividade em sua região/cidade


b)- Você poderá me sugerir algumas pautas ou me pedir para levantar alguns assuntos do seu interesse dentro de determinadas condições


c)- Após seis meses deste acordo, sentaremos para negociar alguma remuneração para seu trabalho de divulgação


6ª)- Criaria um núcleo comercial baseado fortemente em inovação...Caberia a esse núcleo identificar  parceiros estratégicos que possam acompanhar meu serviço de notícias e aceitem dividir comigo seus resultados...


É bom prestar atenção em O Antagonista, o site de notícias que carrega alguns parceiros, como dois programas de orientação financeira (Empiricus e Inversa) e um programa de saúde (Jolivi)... Não se sabe qual a relação comercial existente entre eles, mas o que se observa é que  a publicidade dos parceiros envolve e cavalga a notícia, como no rádio...


Outra função desse núcleo seria observar a onda de inovações de publicidade disparada pelo desenvolvimento da internet e alimentar a comercialização com ideias e novos produtos...

Há alguns meses atrás eu mesmo, em artigo neste blog, escrevia sobre um vídeo (ver abaixo) que se pode encontrar no  Youtube, onde três dançarinos – duas moças e um rapaz -  bailavam ao som de uma música de Marília Mendonça, “Meu Cupido é Gari”... a dança terminava e os três se transformavam em modelos de uma grife, tudo muito agradável, inspirador e revelador das mil possibilidades da internet...


Banca de jornais e revista, símbolo de um mundo ameaçado...

Vídeo que sintetiza a capacidade da internet de dar vazão à criatividade...

4 comentários:

  1. Globalizar o local já tem nome: Glocal.Você está dando a receita. Fico envaidecido a agradecido por ter sido citado. Grande abraço, rabino

    ResponderExcluir
  2. Eu é que fico impressionado com a sua extraordinária capacidade de monitorar o planeta...parabéns

    ResponderExcluir
  3. Não concordo 100% com as idéias propostas, acho que faltam os jornais gratuitos e também a discussão sobre qualidade de conteúdo. O meio, não é necessariamente o culpado pelo fracasso de um produto. Costumo brincar que, se a Gazeta Mercantil fosse impressa nos dias de hoje em papel higiênico, venderia 150 mil rolos por dia. O jornal impresso tem como sobreviver à crise desde que tenha conteúdo, único, exclusivo e pertinente, ou que seja gratuito. Fica aqui a provocação.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu acreditei nisso tudo durante muito tempo e hoje não acredito mais...eu recebo aqui Estadão, Folha, Isto É, Veja e é raro que algum deles me ofereça um conteúdo atraente, que me instigue....a indústria do papel simplesmente não tem condições de acompanhar o ritmo alucinante das midias sociais..ainda hoje - 09-09 - quasse posto algo assim: há 10 anos os jornais começaram a chegar pra mim com cara de ontem e hoje chegam com cara de anteontem...as informações da Gazeta, hoje, estão na rede e as empresas dispõem de robôs para capturá-los...sinto te dizer, Cacau, mas acabou...abraço

      Excluir