31/08/2015

Uma história nada exemplar

        A mídia quase ignorou a concentração em frente ao Instituto Lula, marcada para o mesmo dia – 16/08 – dos protestos nacionais, estes convocados, mais uma vez, pelos movimentos Brasil Livre, Vem pra Rua e Revoltados Online e que reuniram multidões em toda parte, do Oiapoque ao Chuí. A concentração na porta do Instituto, é claro, foi convocada pelo PT e era em desagravo à entidade que teria sofrido alguns ataques dos inimigos do partido, cujo número tem aumentado assustadoramente. Por outro lado, foram, por assim dizer, bem fraquinhas as manifestações convocadas pelo PT para o dia 20/08 em apoio a Dilma, a favor do governo, contra Eduardo Cunha e a favor da Democracia. A piada que corre é que havia nas concentrações petistas, realizadas em 32 cidades, ao todo 120 mil pessoas, segundo os organizadores; 1.200 pessoas, segundo a Polícia Militar e apenas 120 pessoas, segundo o Datafolha. Quem o viu e quem o vê!!!
        Ironia à parte, não deve ser fácil para as lideranças do PT amargar esse quase ostracismo a que o partido começa a ser relegado, inclusive no Nordeste, transformado recentemente em seu reduto eleitoral graças aos programas sociais do tipo Bolsa Família; ruas e praças de cidades como Salvador, Recife, Fortaleza foram incendiadas pelos gritos de Fora Lula! Fora Dilma! e Viva o juiz Sérgio Moro! É a vingança do índio! Ninguém vai conseguir enganar a todos por todo o tempo! Escassearam muito os jabaculês e pixulecos que já levaram multidões para ruas e praças.
        O emagrecimento do PT não surpreende nenhum pouco a quem, como eu, acompanhou a história do partido desde o seu surgimento, alvissareiro, diga-se de passagem, dentro do movimento sindical do ABC Paulista; hoje de volta à cadeia por envolvimento também na operação Lava Jato, Zé Dirceu mandava e desmandava no  PT em parceria com o poderoso chefão, Luiz Ignácio Lula da Silva. Nunca ninguém na República havia usado a tese maquiavélica – os fins justificam os meios – com o mesmo ardor de Zé Dirceu; encavalado no poder já no primeiro mandato de Lula (2003), como chefe da Casa Civil da presidência da República, ele botava as manguinhas de fora – e que manguinhas! Quando queria expelir alguém do governo, inventava dossiês falsos e abomináveis contra seus detratores. Agia confiante, pois atrás dele viria o PT promovendo benesses para o povo. Assim, seus pecados seriam perdoados.
        Havia um Roberto Jeferson em seu caminho. Ele teve de ser apeado do poder de modo quase humilhante. Digo quase porque sua cara de pau impedia que víssemos o quanto foi humilhado. Ele continuou em marcha – marcha do mal – e foi em frente; condenado pelo Mensalão, do qual foi o mentor, conseguia escapar das grades, dando o drible da vaca nas leis e na justiça; sua segunda prisão veio no bojo da Operação Lava Jato. Enquanto descansava, tirava boas casquinhas da Petrobras.
        Aplaudido de pé nas convenções do partido mesmo proscrito do poder, Zé Dirceu manobrava, manobrava e manobrava; poucas pessoas encarnaram o espírito desse declínio petista tão bem quanto ele; apareceu como intermediário da compra, pelo “empresário” Nelson Tanure, da revista Isto É; o negócio não saiu, mas Zé Dirceu, por alguma razão que a própria razão desconhece, começou a mandar na revista mais que seu dono, Domingos Alzugaray. Eu estava nessa época assessorando, a pedido de amigos, o vice-governador de Santa Catarina, Leonel Pavan, do PSDB.
        Zé Dirceu havia escolhido Leonel Pavan, que na época ocupava um cargo importante na Executiva Nacional tucana, como o inimigo número um do PT, que naquele ano (2010) elegeu Dilma para o seu primeiro mandato; Pavan havia sido prefeito do Balneário Camboriú por três vezes e modernizou e saneou a cidade; construiu com isto a base eleitoral que o levaria ao Senado e posteriormente a vice-governador na chapa vitoriosa de Luiz Henrique da Silveira (PMDB); havia um acordo pelo qual PMDB, PFL (Dem) e PSDB iriam apoiá-lo para governador nas eleições de 2010.
        Estava tudo combinado: Luiz Henrique renunciaria no começo de janeiro, o vice Pavan assumiria como governador e no tempo certo seria lançado candidato da coligação tripartite ao governo estadual; ele se esqueceu que o combinado com políticos é geralmente mais falso que uma nota de 12 dólares; Pavan foi acusado de haver aceitado 100 mil reais de uma distribuidora  de petróleo do Rio de Janeiro para impedir que sua licença catarinense fosse cassada pelo órgão fazendário, por inadimplência tributária.
        A licença foi cassada sem nenhuma influência de Pavan e, pela primeira vez na República, se viu uma empresa pagar por um benefício  que  não recebeu. Pavan levou bordoada de tudo quanto é lado; no fim de 2009 eu fui para Santa Catarina para ajudar a salvar o pobre Pavan das labaredas do inferno. Quando o fogo estava quase extinto, eis que entra em cena o grande ídolo do PT, Zé Dirceu. A revista que ele controlava publica duas páginas de pura “bandalheira” que Pavan havia “cometido” em sua passagem pela Prefeitura do Balneário Camboriú. Foi acusado até de falsificar dólares. Era tudo mentira deslavada, mas que importância isso tem, não é mesmo?
        O incêndio contra Pavan recomeçou então com intensidade maior do que havia iniciado. Luiz Henrique não renunciou em janeiro; foi renunciar meses depois, quando Leonel Pavan já estava quase transformado em cinzas. Assumiu o governo só após haver prometido, em discurso na convenção de seu partido, o PSDB, renunciar a suas pretensões de ser candidato ao cargo que já ocupava.
        Resumo da história: o partido do qual se esperava um jeito mais elegante e honesto de fazer política mostrava suas garras e sua disposição de também chafurdar na lama da imoralidade e da indecência. O mais triste é que ele já havia nascido assim, com esse defeito genético, e nós é que custamos a perceber.

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