17/01/2015

Humor bom pra cachorro !

        Dizem que o humor é exclusivo dos seres humanos, mas eu tenho um cachorro, Dadinho, mestiço labrador, que vive desafiando essa teoria. Ele é engraçadíssimo e usa o bom humor das pessoas para ficar a maior parte do tempo possível dentro de casa, perto de gente. Diria que aprecia muito pouco o convívio com seus pares, os demais cachorros da casa.
        O grande problema de Dadinho chama-se Susana, a dona da casa, minha mulher; Dadinho deve enxergá-la como uma espécie de extremista islâmico dos mais fanáticos e implacáveis. Ele a desafia pelo menos três vezes por dia. E ela não repara – nunca reparou – nas charges que desenha quando se vê encurralado.
        Uma dessas charges foi uma pintura e eu a tenho gravada na memória para jamais esquecer. Susana estava na sala da casa e ele, sorrateiramente, como sempre faz, penetra pela porta da cozinha. Ela ainda não o tinha visto e ele aproveitou para desafiá-la mais uma vez, entrou na sala e acomodou-se num de seus lugares preferidos, um tapete do meu lado, a menos de cinco metros dela. Os gritos de Susana ecoaram pela casa. “É muita cara de pau !!!! Muita cara de pau !!!” (sua indignação maior era perceber que ele a desafiava, parecia saber que seria enxotado mas procurava acomodar-se o mais próximo possível dela )
        Expulso da sala, Dadinho sai em direção à cozinha, dando a impressão que iria sair da casa tão rapidamente quanto entrou. Pura matreirice, a meio caminho da cozinha, sobe para o escritório, escada de madeira que faz ressoar pela casa cada passo de gente, é claro . Susana abandonou de vez o que fazia – preparava um lanche para a família – e saiu ao encalço de seu desafiante desaforado. Subiu a escada batendo os pés na madeira e foi também parar no escritório. Definitivamente, Dadinho não estava nos seus melhores dias: bem na porta do escritório, topou com meu filho caçula, Ives, que, solidário à mãe repetia as mesmas palavras de ordem, fora, fora, fora !
        Dadinho desceu apressado, e ao chegar, esbaforido à copa, separada da cozinha por um balcão, sacou lápis e papel e foi desenhando em nítidos contornos a sua melhor charge, improvisada pela astúcia de um ser bem humorado. Foi assim: ao adentrar à copa viu uma folha de jornal dupla flutuando pelo vento que soprava forte naquele instante; foi de encontro à ela de peito estufado e levou-a para fora da casa. Tinha várias opções se não quisesse me fazer rir, desviar-se; enfiar-se debaixo da folha; contorná-la de um lado ou de outro, mas preferiu aquela que lhe proporcionaria uma chegada à cozinha triunfal, apoteótica, digna de aplausos...levou a folha no peito! Foi o que fiz - aplaudi.
        Dadinho é meio meu e meio do meu filho mais velho, Eli. Mas isso eu conto em outro dia, com mais calma.


(Nosso Herói Dadinho descansando dentro de casa)

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