05/09/2014

Revolução de hábitos

       Acordei para a vida, depois da cirurgia, como se eu fosse uma  outra pessoa - ex-fumante, compenetrado na ideia de ter uma alimentação saudável, desejando perder peso, aceitando mansamente as sessões de fisioterapia com o tempo que tiverem de durar, abandonei  o hábito de beber um bom vinho e de perder dinheiro em caça-níqueis.
        Eu era o oposto do que sou hoje - fumava desbragadamente; quanto mais gordurosa fosse a comida,  melhor; estive sempre, nos últimos 30 anos, com pelo menos 30 quilos acima do peso para um homem de estatura mediana; jogar bocha era meu único exercício  físico e, a concluir  pelo estado das minhas coronárias, nunca serviu  para coisa alguma; não era fanático, mas não rejeitava uma boa dose de cachaça, de preferência, daquela que eu mesmo ia buscar num alambique de Caçapava ou uma garrafa de vinho de boa procedência - argentino, chileno, espanhol ou francês. Não cheguei a ser viciado, mas adorava perder um bom dinheirinho nessas maquininhas de jogo, embora façam pelo menos uns três anos que nem chego perto de uma delas.  Ah, minha orientação sexual, digamos, é  "imexível", continuo gostando muito de mulheres e só de mulheres!
        É engraçado como meu cérebro e meus sentidos me acompanham nessa espécie de “jornada do bem”. Olho hoje com desprezo para imagens de costela de boi ou de porco, assadas, e que sempre tiveram minha preferência culinária; ainda neste sábado, no aniversário de minha nora, Daniela, rejeitei uma costela de porco que parecia estar uma delícia. São raros os pratos de “antigamente”, entre todos aqueles que frequentam a lista negra das melhores nutricionistas, que se mantêm hoje como alvo de meus desejos. Em matéria de comida saudável sou hoje mais rigoroso que minha mulher e meus filhos que há muito tempo implicavam com meus “excessos”.
        Isto tudo sem ter perdido o prazer gastronômico. Adoro a culinária japonesa, árabe, molhos picantes, peixes. Aprendi, contudo, a comer moderadamente. Ainda estou amarrado a uma carga muito grande de medicamentos - controle da pressão, diabetes, dores neuropáticas -, mas a previsão é que tudo deve ser reduzido aos poucos. Quando sentir que posso, tomarei uma taça de vinho de boa qualidade, uma vez ou outra, a única “extravagância” que me desperta o desejo de voltar a cometer.
        A pergunta que me faço é por que resolvi mudar tanto meus hábitos e costumes? Será por medo da morte? Medo de ter um segundo AVC? A verdadeira resposta eu ainda não descobri e ainda estou tentando achá-la no “escondido” da alma. Penso nisso com muita frequência.
Ao decidir fazer este Blog minha preocupação foi esmiuçar, nesta experiência de saúde, tudo que ela tem de útil para os meus leitores, tornando pública minha grande e íntima preocupação de cunho filosófico, que é ajudar as pessoas que tentam encontrar um caminho mais saudável para viver. Assim sendo, tenho de dar o bom exemplo, sem outras alternativas.

 Acho que minha grande mensagem a todos que me lêem é que não existem grandes sacrifícios em adotar uma vida mais saudável, pois é possível “construir” uma dieta atraente, para qualquer paladar, fora de extravagâncias e excessos. Além disso, a caminhada descontraída por regiões urbanas ou rurais pode ser uma alternativa saudável e divertida de exercício físico para todas as pessoas que não têm as restrições de acesso que eu tenho agora, das quais eu poderei me livrar através da fisioterapia.
        Sei que os tetraplégicos - pessoas que sofreram lesão medular mais severa que a minha, com imobilização total dos quatro membros - também podem sair em busca de sua dieta ao mesmo tempo saudável e apetitosa e, quem sabe, ter acesso a instrumentos que deixem suas restrições de acesso, digamos, suportáveis. Minha atração pelo jogo vai merecer um texto exclusivo dentro de alguns dias.

  (Desenho do Homer Simpson comento)

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