30/10/2015

O Homem e a Cadeira de Rodas (4)

        Guilherme Travassos, um leitor da minha crônica “O homem e a cadeira de rodas (1)”, escreveu-me para se excluir, com justa razão, do grupo de pessoas que enxergam o cadeirante por baixo de uma nuvem de preconceito como me referi à maioria das pessoas da sociedade no Brasil. “Sempre que posso, ajudo sem que me peçam”, disse-me Guilherme.
        Na verdade, com a crônica, quis dizer que temos um longo caminho pela frente na guerra pelo fim dos preconceitos e pessoas como Guilherme Travassos terão de marchar junto com todos nós para ensinar as pessoas a olhar para o deficiente com mais sensibilidade e clareza.
        Outro leitor, Antônio Celso Zangelmi, foi mais longe; ao comentar a mesma crônica, mostrou  que o preconceito é típico brasileiro, pois em países como os EUA “é punido com severidade”. Celso chamou ainda atenção para o fato de que um dos mais respeitados cientistas do mundo – físico teórico e cosmólogo britânico Stephen Willian Hawking – é cadeirante e portador de ELA, Esclerose Lateral Amiotrófica, em estágio avançado. Stephen atrofia em cadeira de rodas e ainda assim tem conquistado medalhas, honrarias e prêmios por relevância de seus estudos.
        Isto sem nos esquecermos de que uma das mais brilhantes deputadas brasileiras, Mara Gabrilli (PSDB-SP), é tetraplégica, ou seja, perdeu em acidente de trânsito todo o movimento de pernas e braços. Ainda recentemente, Mara foi representar o Brasil em reunião do Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência das Nações Unidas. Mara, que ocupa atualmente o cargo de terceira secretária do Congresso Nacional, faz de sua atividade política um libelo em favor da acessibilidade a portadores de necessidades especiais.
        Outra mensagem bem estimulante veio de minha sobrinha, Lúcia Diniz, médica dermatologista, referência nacional em hanseníase. Ela reside em Vitória, no Espírito Santo, de onde me escreveu o seguinte:
        “ Fico triste em ler sobre as suas histórias de cadeirante, pois uma coisa é a gente ser cadeirante, a outra é "aceitar" ser cadeirante. Talvez o que conserve a minha mãe do jeito que é, ainda jovem aos quase 80 anos, foi negar-se a ser "velha". Se vivermos muito, seremos velhos, mas não significa que tenho de assumir determinadas coisas, que as pessoas consideram ser "dos velhos".
        Ganhei o livro "Sempre em movimento, OLIVER SACKS, uma vida"; biografia deste médico neurologista inglês, mas que adotou os EUA para seguir a sua profissão. Escreveu vários  livros, mas este, no penúltimo capítulo, se refere aos sequelados de AVC e os caminhos que o cérebro pode recriar em outras áreas diferentes daquelas que foram atingidas pela isquemia e melhorar ou solucionar algumas alterações provocadas por ela. Vale ler o livro e fazer os exercícios tentando criar estes novos caminhos.
        Abraços a todos e muita força!”

(Cadeirante no Brasil)

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